Aos Críticos

" Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama:Olha uma borboleta!” O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: — "Ah! sim, um lepidóptero...”"

"Aos Loucos e Raros"

Apresento minha grande contradição, o que posso mostrar de meu mundo, de meu ser, de meu são.



Tuesday, July 15, 2014

Como flores em vasos

Saudade do tempo em que rosas solitarias me faziam compania.
Alimentava- as em humildes copos com água
e elas me sorriam em sua simplicidade.

Então observava - as florescer cada petala delicada formando-lhe uma coroa.
Como uma mulher explode em vida
fazendo florir meus olhos de tanta beleza.

As petalas mudam de textura,
mudam de cor e a rosa se desfaz,
sem abrir mão de sua graça, beleza.

Compania que ensolarou o sorriso de meus dias,
os enchia de cores e lembraças das mãos q a entregaram ao meu cuidado.

Mãos, que como a rosa ,tanto fizeram ,
e que agora se desfazem,
deixando-me como a flor,
explodindo e florindo
em minha solitaria compania.

Tuesday, April 29, 2014

Quando morrem as palavras


Poderiam os poetas viver somente do sabor

e das entranhas nas entrelinhas das palavras?


Saciar-se enquanto elas escorrem pelo papel

na mais verdadeira certeza de realidade.


Veem de seu intimo com tanta intensidade

que engasga, vomita, chora,

as ama , as amarra, e as liberta em um tênue fio

que contorna o sentido dos versos


Faz-se escuridão e vazio,

como se tivesse parido toda vida de dentro de si,

torna-se mortal


Se lhe falta a palavra

A fragilidade lhe assola a alma

O corpo torna-se oco

A mente sã

morre a poesia e o poeta insaciado

Saturday, April 19, 2014

Migalhas


Há quem diga que são o que sobra, sujeira,
restos na mesa, no chão, nos pratos.
A pele que fica nas unhas,
o salivar pela refeição,
e o gostinho que ela deixaria na boca.
A réstia no canto de um olhar desejoso

Um toque com o que sobrou do dia
Com o que sobrou de tantos outros toques
Versos que ficaram fora de uma poesia
Segundos cheios no vazio das horas

Histórias construídas com restos de poemas
aqueles esquecidos nos rascunhos,
feitos com sobras de lembranças,
cheiros que restam nas roupas,
memorias que ainda ecoam pelo corpo
e suor desprezado pelo encontro dos poros.

Suspiros perdidos no vento
afetos que se esvaem em suave brisa,
tempestades, tormentas, furacões.

Seriam tão saborosas que somente bastam ?
Os pombos vivem de migalhas,
mas são apenas pombos.

Tuesday, April 01, 2014

Quando florem os flamboyants

A arte transborda em cores intensas.
A tela, os tubos de tinta os pinceis,
não são mais suficientes para comportar
a imensidão que se faz da obra.

O vermelho escorre com delicadas pinceladas
amarelas, brancas, laranjas,
mistura-se no chão , deita na relva,
nas mãos, nas paredes do corpo,
misturam-se os cabelos, a pele, às flores.

O artista torna-se obra
e a intensidade da vida
matéria prima.

Sob a proteção da frondosa copa,
em prazer profundo,
dorme na sombra aconchegante a razão.
Flamejam, incendeiam, sentimentos

O calor invade a primavera
quando explodem os flamboyants.

Thursday, March 20, 2014

Correnteza

Ela olhava tímida por entre
as outras flores e folhas das arvores,
via lá embaixo o rio que corria
com forte delicadeza.

Respirou profundo,
corajosamente desprendeu-se dos galhos,
com uma dança graciosa
deslizou pelo vento até tocar a agua.
  
Como se fosse sugada por um turbilhão,
foi arrastada por entre galhos, plantas e pedras,
agarrou-se na esperança de salvar-se,
deixou um caminho cheio de marcas.

Afogou-se em seus amores,
raivas e sentimentos despretensiosos.
Afogou-se  no rio  das confusões de si,
arranhões, machucados e cicatrizes …

pedra, galho, correnteza, margem, mato, planta
bicho, chão... pedra, pedra, pedra correnteza.

Então, um carinho...
Entregou-se aos braços do rio,
E ele a abraçou em segurança
para levá-la ao mar

" A correnteza do rio vai levando aquela flor..."

Thursday, March 06, 2014

O despertar da Rainha


Em um desses voos noturnos,
num dia de cheia no céu
vi quando a lua tornou prata o sangue que corre nas veias da terra.

Brilhava a cada curva revelando o curso.
Corria vivo, margeado pelo destino
para levar a mensagem da vida.

Tocaram os tambores
e as estrelas responderam no céu,
como um eco das flores e ervas na mata

Perfumes exalavam pelos poros das plantas,
uma inspiração profunda preencheu o pulmão do tocador,
tocou em transe às notas trazidas pelo cheiro do vento.

Da cama de folhas na terra,
de seu sonho,
tocada pelas aguas prateadas,
e ungida pelo sangue da terra,
despertou nua e em toda sua natureza de mulher,
a Rainha.

Monday, March 03, 2014

Ressaca

Era uma dança que havia que se dançar a dois.
Dançavam como uma dança mística, profana,
uma dança deliciosamente torta e errada,
uma dança cheia de prazeres a cada passo do par.

Um jogo de incerteza que levava a lugar algum.
Nem se  sabia  se  queria realmente chegar a algum lugar.

Era como o mar,
em suas marés que chegam arrebatadoras
cheias, cheias de tudo que não pode-se dizer
belas sensações, que preenchem um êxtase momentâneo
logo levadas pela vazante
como se nunca tivessem existido...

Fica o Vazio. 
Por um momento os dançarinos duvidam da realidade,
perdem-se no balaço do sono e dos sonhos
resta nas mãos a memoria do toque ,
e por todo corpo o frenesi do ressoar das ondas.
Ah sim,  estiveram realmente dançando!

Tuesday, August 13, 2013

Arcano XVI

Era um vez um menino,
em uma torre ele vivia e tudo sabia.
Lia sobre física, matemática, química e todas as icas...
Estudava, biologia, história, filosofia... e todas as ias
Pesquisava sobre religião, literatura e os sentimentos.
Ah! Os sentimento, estes eram o que mais lhe fascinavam
em toda sua fisiologia.
Se orgulhava de seu conhecimento e sua inteligência.
E olhava tudo do alto de sua torre julgando,
a negligência, a inexperiência e inabilidade.
Se estivesse lá embaixo a tudo saberia como melhorar.
Um dia resolveu descer da torre.
Olhou as pessoas de um outro ângulo,
olhou pela linha do sol, o horizonte
Não estava acostumado a andar sob essa perspectiva, tropeçou e caiu.
Uma garota o segurou pelo braço e lhe sorriu.
Ele sentiu sua pele macia e seu perfume de flor,
ouviu seu riso, desentendeu a tão estudada fisiologia do próprio corpo
desentendeu tudo o que havia aprendido, pois não compreendeu,
desesperou-se pois percebeu que nada sabia,
o menino havia lido tudo sobre o amor, mas não sabia amar.

Friday, March 02, 2012

Sonho do segredo


Mistérios, segredos sagrados

O segredo é velado
é guardado

Tão belo quanto inesperado
diferente aos olhos de todos os que podem ver

Indiferente aos olhos
dos que não tem permissão para vê-los

Um segredo não pode ser descoberto,
ele revela-se por vontade própria

Conquista-se um segredo para que se revele,

Thursday, February 02, 2012

Desapego

Não deixo meu passado enterrado
para que não torne e brotar em mim

Cuido para que somente as flores presentes
brotem em meu jardim

Não me importo com suas cores
folhagens,especie, espinhos,
mas apenas me preocupo em fazer
com que durem o quanto devem durar

E ao final do ano as recolho todas
e com agradecimentos as jogo para Iemanjá

De terra arada recomeço
a final, em jardim cheio de mais
não se pode plantar novas flores
e o que esta plantado pode não florescer.