Aos Críticos

" Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama:Olha uma borboleta!” O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: — "Ah! sim, um lepidóptero...”"

"Aos Loucos e Raros"

Apresento minha grande contradição, o que posso mostrar de meu mundo, de meu ser, de meu são.



Tuesday, April 29, 2014

Quando morrem as palavras


Poderiam os poetas viver somente do sabor

e das entranhas nas entrelinhas das palavras?


Saciar-se enquanto elas escorrem pelo papel

na mais verdadeira certeza de realidade.


Veem de seu intimo com tanta intensidade

que engasga, vomita, chora,

as ama , as amarra, e as liberta em um tênue fio

que contorna o sentido dos versos


Faz-se escuridão e vazio,

como se tivesse parido toda vida de dentro de si,

torna-se mortal


Se lhe falta a palavra

A fragilidade lhe assola a alma

O corpo torna-se oco

A mente sã

morre a poesia e o poeta insaciado

Saturday, April 19, 2014

Migalhas


Há quem diga que são o que sobra, sujeira,
restos na mesa, no chão, nos pratos.
A pele que fica nas unhas,
o salivar pela refeição,
e o gostinho que ela deixaria na boca.
A réstia no canto de um olhar desejoso

Um toque com o que sobrou do dia
Com o que sobrou de tantos outros toques
Versos que ficaram fora de uma poesia
Segundos cheios no vazio das horas

Histórias construídas com restos de poemas
aqueles esquecidos nos rascunhos,
feitos com sobras de lembranças,
cheiros que restam nas roupas,
memorias que ainda ecoam pelo corpo
e suor desprezado pelo encontro dos poros.

Suspiros perdidos no vento
afetos que se esvaem em suave brisa,
tempestades, tormentas, furacões.

Seriam tão saborosas que somente bastam ?
Os pombos vivem de migalhas,
mas são apenas pombos.

Tuesday, April 01, 2014

Quando florem os flamboyants

A arte transborda em cores intensas.
A tela, os tubos de tinta os pinceis,
não são mais suficientes para comportar
a imensidão que se faz da obra.

O vermelho escorre com delicadas pinceladas
amarelas, brancas, laranjas,
mistura-se no chão , deita na relva,
nas mãos, nas paredes do corpo,
misturam-se os cabelos, a pele, às flores.

O artista torna-se obra
e a intensidade da vida
matéria prima.

Sob a proteção da frondosa copa,
em prazer profundo,
dorme na sombra aconchegante a razão.
Flamejam, incendeiam, sentimentos

O calor invade a primavera
quando explodem os flamboyants.