“Sonhei que era loba, corria livre pelas
montanhas” – Disse Ela.
Ele , como de costume , desacreditou de seus sonhos , fez-lhe
proibições , quis convencê-la de que não era loba mas sim, louca.
Acariciou-a como se acaricia um cachorrinho
domesticado, na tentativa de convencê-la de seu amor.
Nessa noite Ela cedeu de si um tanto para Ele, tanto quanto pôde, e era muito.
Assim foi por dias, até que um dia, Ela não
sonhou...
“Acho
que sou loba, acordei com gosto de sangue em minha boca” – Disse Ela
Ele riu , desdenhou de seus desejos, fez-lhe
exigências para continuar ao seu lado, como se lhe fizesse um grande favor, disse ainda para calar, porque seu cantar já era para Ele ruído.
Acariciou-a de novo, aquele carinho, aquele de
quem acaricia o cachorrinho fofo, a loba dentro dela eriçou os pelos, mostrou
os dentes. Ele não viu.
Ela não disse mais...
Acordou embebida em sangue, Ele jazia lá
com os ossos amostra, com olhos sem vida, a carne já não tinha mais gosto, já não existia
prazer.
Chovia lá fora , tirou o que restava da
roupa, caminhou descalça até a chuva. Permitiu-se lavar qualquer resquício que ele
deixara em seu corpo.
Essa
noite Ela seria lua, nua ,correria livre pela sua selva afora, cantaria para o vento...