Aos Críticos

" Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama:Olha uma borboleta!” O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: — "Ah! sim, um lepidóptero...”"

"Aos Loucos e Raros"

Apresento minha grande contradição, o que posso mostrar de meu mundo, de meu ser, de meu são.



Friday, February 12, 2016

Licantropia



“Sonhei que era loba, corria livre pelas montanhas” – Disse Ela.

Ele , como de costume ,  desacreditou de seus sonhos , fez-lhe proibições , quis convencê-la de que não era loba  mas sim, louca.
Acariciou-a como se acaricia um cachorrinho domesticado, na tentativa de convencê-la de seu amor.
Nessa noite Ela cedeu de si um tanto para Ele, tanto quanto pôde, e era muito.

Assim foi por dias, até que um dia, Ela não sonhou...

“Acho que sou loba, acordei com gosto de sangue em minha boca” – Disse Ela

Ele riu , desdenhou de seus desejos, fez-lhe exigências para continuar ao seu lado, como se lhe fizesse um grande favor, disse ainda para calar,  porque seu cantar já era para Ele ruído.
Acariciou-a de novo, aquele carinho, aquele de quem acaricia o cachorrinho fofo, a loba dentro dela eriçou os pelos, mostrou os dentes. Ele não viu.

 Ela não disse mais...

Acordou embebida em sangue, Ele jazia lá com os ossos amostra, com olhos sem vida, a carne já não tinha mais gosto, já não existia prazer.
Chovia lá fora , tirou o que restava da roupa, caminhou descalça até a chuva. Permitiu-se lavar qualquer resquício que ele deixara em seu corpo.
Essa noite Ela seria lua, nua ,correria livre pela sua selva afora, cantaria para o vento...