Aos Críticos

" Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama:Olha uma borboleta!” O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: — "Ah! sim, um lepidóptero...”"

"Aos Loucos e Raros"

Apresento minha grande contradição, o que posso mostrar de meu mundo, de meu ser, de meu são.



Saturday, August 27, 2016

Encontros em esquinas

O dia em que me perdi passando de ônibus em algum lugar na esquina entre a rua dos inválidos e a rua da relação, Rio de Janeiro – RJ.
Uma esquina um tanto poética eu pensei, procurei, mas nunca mais dei conta desse encontro.
Peguei-me perguntando sobre invalidez...  Esse termo, invalido, era dado para pessoas moribundas, incapazes de produzir, provável que havia na rua um hospital.
E a rua correu, correu num tempo, correu num tanto, até encontrar a relação.
E desse encontro, da relação com a invalidez, quando não há mais o que produzir, se não repetir erros, padrões, círculos viciosos é quando andamos como se tivessem moribundos acorrentados em nossos tornozelos, puxando um peso morto, incapaz de desatar as correntes antes que ele se acabe em pó... Sem renovação, sem evolução...  Deve-se olha-la definhar sem nada que se possa fazer? Como deixa-la partir, a relação, como enterra-la?
Passei pela esquina, mas de alguma forma minha mente sempre volta lá, se prostituindo a falsas ideias a fim de  evitar o tal encontro ... Chego à conclusão que tudo finda, e algum dia, pela vida ou pela morte, essas ruas, elas vão se cruzar.

Questiono-me apenas acerca do resultado da experimentação: Se soltar o peso moribundo antes que ele morra... será que tem esperança de vida?

Friday, February 12, 2016

Licantropia



“Sonhei que era loba, corria livre pelas montanhas” – Disse Ela.

Ele , como de costume ,  desacreditou de seus sonhos , fez-lhe proibições , quis convencê-la de que não era loba  mas sim, louca.
Acariciou-a como se acaricia um cachorrinho domesticado, na tentativa de convencê-la de seu amor.
Nessa noite Ela cedeu de si um tanto para Ele, tanto quanto pôde, e era muito.

Assim foi por dias, até que um dia, Ela não sonhou...

“Acho que sou loba, acordei com gosto de sangue em minha boca” – Disse Ela

Ele riu , desdenhou de seus desejos, fez-lhe exigências para continuar ao seu lado, como se lhe fizesse um grande favor, disse ainda para calar,  porque seu cantar já era para Ele ruído.
Acariciou-a de novo, aquele carinho, aquele de quem acaricia o cachorrinho fofo, a loba dentro dela eriçou os pelos, mostrou os dentes. Ele não viu.

 Ela não disse mais...

Acordou embebida em sangue, Ele jazia lá com os ossos amostra, com olhos sem vida, a carne já não tinha mais gosto, já não existia prazer.
Chovia lá fora , tirou o que restava da roupa, caminhou descalça até a chuva. Permitiu-se lavar qualquer resquício que ele deixara em seu corpo.
Essa noite Ela seria lua, nua ,correria livre pela sua selva afora, cantaria para o vento...