Aos Críticos

" Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama:Olha uma borboleta!” O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: — "Ah! sim, um lepidóptero...”"

"Aos Loucos e Raros"

Apresento minha grande contradição, o que posso mostrar de meu mundo, de meu ser, de meu são.



Thursday, March 20, 2014

Correnteza

Ela olhava tímida por entre
as outras flores e folhas das arvores,
via lá embaixo o rio que corria
com forte delicadeza.

Respirou profundo,
corajosamente desprendeu-se dos galhos,
com uma dança graciosa
deslizou pelo vento até tocar a agua.
  
Como se fosse sugada por um turbilhão,
foi arrastada por entre galhos, plantas e pedras,
agarrou-se na esperança de salvar-se,
deixou um caminho cheio de marcas.

Afogou-se em seus amores,
raivas e sentimentos despretensiosos.
Afogou-se  no rio  das confusões de si,
arranhões, machucados e cicatrizes …

pedra, galho, correnteza, margem, mato, planta
bicho, chão... pedra, pedra, pedra correnteza.

Então, um carinho...
Entregou-se aos braços do rio,
E ele a abraçou em segurança
para levá-la ao mar

" A correnteza do rio vai levando aquela flor..."

Thursday, March 06, 2014

O despertar da Rainha


Em um desses voos noturnos,
num dia de cheia no céu
vi quando a lua tornou prata o sangue que corre nas veias da terra.

Brilhava a cada curva revelando o curso.
Corria vivo, margeado pelo destino
para levar a mensagem da vida.

Tocaram os tambores
e as estrelas responderam no céu,
como um eco das flores e ervas na mata

Perfumes exalavam pelos poros das plantas,
uma inspiração profunda preencheu o pulmão do tocador,
tocou em transe às notas trazidas pelo cheiro do vento.

Da cama de folhas na terra,
de seu sonho,
tocada pelas aguas prateadas,
e ungida pelo sangue da terra,
despertou nua e em toda sua natureza de mulher,
a Rainha.

Monday, March 03, 2014

Ressaca

Era uma dança que havia que se dançar a dois.
Dançavam como uma dança mística, profana,
uma dança deliciosamente torta e errada,
uma dança cheia de prazeres a cada passo do par.

Um jogo de incerteza que levava a lugar algum.
Nem se  sabia  se  queria realmente chegar a algum lugar.

Era como o mar,
em suas marés que chegam arrebatadoras
cheias, cheias de tudo que não pode-se dizer
belas sensações, que preenchem um êxtase momentâneo
logo levadas pela vazante
como se nunca tivessem existido...

Fica o Vazio. 
Por um momento os dançarinos duvidam da realidade,
perdem-se no balaço do sono e dos sonhos
resta nas mãos a memoria do toque ,
e por todo corpo o frenesi do ressoar das ondas.
Ah sim,  estiveram realmente dançando!