Aos Críticos

" Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama:Olha uma borboleta!” O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço esvoaçante de vida, murmura: — "Ah! sim, um lepidóptero...”"

"Aos Loucos e Raros"

Apresento minha grande contradição, o que posso mostrar de meu mundo, de meu ser, de meu são.



Friday, December 12, 2014

O ninho da resistência

Meu cabelo é resistência.
Ressaca do oceano 

em mim.
Juba revolta ruge 

em mar de ondas.
Quebram-se contra pedras, preconceitos.
Rompem rochas que conduzem caminhos retos, insossos

Resiste

Cacheia como furacão 

em fúria
Se atreve em brisa
Enrola-se em ninhos
Leva-se livre

a resistência que sou

Monday, November 03, 2014

Rendas, Rosas e Perfumes

Tomou um demorado banho,
escolheu seu melhor perfume,
aquele que o agravada.

Escolheu a dedo sua lingerie,
rendas brancas e rosas
com transparências de um sexy sem vulgar.

Observou suas curvas no espelho,
pensou em como ele a veria.
Procurou um vestido comportado mas, provocante.

Vestiu meias 3/8 para fazer um surpresa
Armou os cabelos, pintou as unhas de vermelho.

Aguardou ansiosamente olhando a chuva,
as paredes, os quadros, os cantos, ate não ter mais para onde olhar.

Segurou o celular, ele vibrou,
ela sorriu e pegou a chave de casa,
Atendeu, uma desculpa...

Pensou , no desperdício de perfume,
de tempo, de lingerie.

Afogou-se na poltrona ,
admirou a chuva, admirou-se!

Abriu a garrafa de vinho que tinha separado para os dois,
encheu uma taça, e brindou sozinha:

- “ Não mais desperdício, do tudo o mais belo é para mim”







Tuesday, July 15, 2014

Como flores em vasos

Saudade do tempo em que rosas solitarias me faziam compania.
Alimentava- as em humildes copos com água
e elas me sorriam em sua simplicidade.

Então observava - as florescer cada petala delicada formando-lhe uma coroa.
Como uma mulher explode em vida
fazendo florir meus olhos de tanta beleza.

As petalas mudam de textura,
mudam de cor e a rosa se desfaz,
sem abrir mão de sua graça, beleza.

Compania que ensolarou o sorriso de meus dias,
os enchia de cores e lembraças das mãos q a entregaram ao meu cuidado.

Mãos, que como a rosa ,tanto fizeram ,
e que agora se desfazem,
deixando-me como a flor,
explodindo e florindo
em minha solitaria compania.

Tuesday, April 29, 2014

Quando morrem as palavras


Poderiam os poetas viver somente do sabor

e das entranhas nas entrelinhas das palavras?


Saciar-se enquanto elas escorrem pelo papel

na mais verdadeira certeza de realidade.


Veem de seu intimo com tanta intensidade

que engasga, vomita, chora,

as ama , as amarra, e as liberta em um tênue fio

que contorna o sentido dos versos


Faz-se escuridão e vazio,

como se tivesse parido toda vida de dentro de si,

torna-se mortal


Se lhe falta a palavra

A fragilidade lhe assola a alma

O corpo torna-se oco

A mente sã

morre a poesia e o poeta insaciado

Saturday, April 19, 2014

Migalhas


Há quem diga que são o que sobra, sujeira,
restos na mesa, no chão, nos pratos.
A pele que fica nas unhas,
o salivar pela refeição,
e o gostinho que ela deixaria na boca.
A réstia no canto de um olhar desejoso

Um toque com o que sobrou do dia
Com o que sobrou de tantos outros toques
Versos que ficaram fora de uma poesia
Segundos cheios no vazio das horas

Histórias construídas com restos de poemas
aqueles esquecidos nos rascunhos,
feitos com sobras de lembranças,
cheiros que restam nas roupas,
memorias que ainda ecoam pelo corpo
e suor desprezado pelo encontro dos poros.

Suspiros perdidos no vento
afetos que se esvaem em suave brisa,
tempestades, tormentas, furacões.

Seriam tão saborosas que somente bastam ?
Os pombos vivem de migalhas,
mas são apenas pombos.

Tuesday, April 01, 2014

Quando florem os flamboyants

A arte transborda em cores intensas.
A tela, os tubos de tinta os pinceis,
não são mais suficientes para comportar
a imensidão que se faz da obra.

O vermelho escorre com delicadas pinceladas
amarelas, brancas, laranjas,
mistura-se no chão , deita na relva,
nas mãos, nas paredes do corpo,
misturam-se os cabelos, a pele, às flores.

O artista torna-se obra
e a intensidade da vida
matéria prima.

Sob a proteção da frondosa copa,
em prazer profundo,
dorme na sombra aconchegante a razão.
Flamejam, incendeiam, sentimentos

O calor invade a primavera
quando explodem os flamboyants.

Thursday, March 20, 2014

Correnteza

Ela olhava tímida por entre
as outras flores e folhas das arvores,
via lá embaixo o rio que corria
com forte delicadeza.

Respirou profundo,
corajosamente desprendeu-se dos galhos,
com uma dança graciosa
deslizou pelo vento até tocar a agua.
  
Como se fosse sugada por um turbilhão,
foi arrastada por entre galhos, plantas e pedras,
agarrou-se na esperança de salvar-se,
deixou um caminho cheio de marcas.

Afogou-se em seus amores,
raivas e sentimentos despretensiosos.
Afogou-se  no rio  das confusões de si,
arranhões, machucados e cicatrizes …

pedra, galho, correnteza, margem, mato, planta
bicho, chão... pedra, pedra, pedra correnteza.

Então, um carinho...
Entregou-se aos braços do rio,
E ele a abraçou em segurança
para levá-la ao mar

" A correnteza do rio vai levando aquela flor..."

Thursday, March 06, 2014

O despertar da Rainha


Em um desses voos noturnos,
num dia de cheia no céu
vi quando a lua tornou prata o sangue que corre nas veias da terra.

Brilhava a cada curva revelando o curso.
Corria vivo, margeado pelo destino
para levar a mensagem da vida.

Tocaram os tambores
e as estrelas responderam no céu,
como um eco das flores e ervas na mata

Perfumes exalavam pelos poros das plantas,
uma inspiração profunda preencheu o pulmão do tocador,
tocou em transe às notas trazidas pelo cheiro do vento.

Da cama de folhas na terra,
de seu sonho,
tocada pelas aguas prateadas,
e ungida pelo sangue da terra,
despertou nua e em toda sua natureza de mulher,
a Rainha.

Monday, March 03, 2014

Ressaca

Era uma dança que havia que se dançar a dois.
Dançavam como uma dança mística, profana,
uma dança deliciosamente torta e errada,
uma dança cheia de prazeres a cada passo do par.

Um jogo de incerteza que levava a lugar algum.
Nem se  sabia  se  queria realmente chegar a algum lugar.

Era como o mar,
em suas marés que chegam arrebatadoras
cheias, cheias de tudo que não pode-se dizer
belas sensações, que preenchem um êxtase momentâneo
logo levadas pela vazante
como se nunca tivessem existido...

Fica o Vazio. 
Por um momento os dançarinos duvidam da realidade,
perdem-se no balaço do sono e dos sonhos
resta nas mãos a memoria do toque ,
e por todo corpo o frenesi do ressoar das ondas.
Ah sim,  estiveram realmente dançando!